Mesmo quando é provado que o discurso é infudado, os presidenciáveis insistem em manter suas afirmações
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O imaginário brasileiro já caracteriza o político como um falso pagador de promessas: alguém que promete mais do que pode ofertar e acaba cumprindo pouco — ou nada — , do que foi prometido. É comum, faz parte. O que acontece hoje nas Eleições de 2018, porém, é uma insistência, quase que teimosia por parte dos presidenciáveis, em manter um discurso muitas vezes infundável ou ilógico.
O candidato pelo PSDB, Geraldo Alckmin,
tem nessas eleições, o maior tempo de propaganda gratuita em rádio e
televisão. Mesmo assim, terá que fazer um forte esforço para convencer
os eleitores de que é um nome possível ao voto. O que se viu até então
em debates, porém, é uma tentativa frustrada de se isentar de problemas
relacionados à corrupção. Ana Amélia Lemos,
candidata a vice-presidente da chapa, é do Progressistas (antigo PP),
partido com maior número de investigados da Lava Jato. Dos cinco
partidos com maior número de políticos cassados segundo o Dossiê do
Comitê Nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, só um — o
MDB — não apoia Alckmin. Além disso, em Alagoas, por exemplo, o PSDB,
ainda se aliou à candidatura de Fernando Collor de Mello.
Quando questionado, porém, Alckmin insiste em falar que mantém no
partido e nas coligações todos aqueles que acredita serem homens
corretos e inocentes, e que caso sejam encontradas provas contrárias,
atitudes serão tomadas.
Jair Bolsonaro
(PSL) também costuma emoldurar as mesmas respostas e manter o mesmo
discurso, mesmo quando contestado. Em quase todas sabatinas, ele foi
questionado sobre o fato de se vender como novo na política, mesmo já
estando no sétimo mandato de Deputado Federal — o que dá 28 anos de vida
pública. Bolsonaro nunca responde esta pergunta claramente: suas
respostas variam do fato dele ser do "baixo clero" da política e de não
apoiar a corrupção. É comum ele usar uma citação de Joaquim Barbosa
que disse que Bolsonaro foi o único deputado da base aliada que não foi
comprado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Não é bem assim: Barbosa
se referia a uma votação específica que aconteceu em 2003 e não a todo
esquema do mensalão do PT.
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Wilton Junior/Estadão Conteúdo |
Apesar de apertar sempre nas mesmas teclas em seus discursos, é comum ver Bolsonaro
voltando atrás quando percebe que sua manifestação não foi de agradado
ou que não teve a repercussão desejada. Foi o caso, por exemplo, de
quando teve que voltar atrás da ideia de aumentar o número de Ministros
de 11 para 21; ou quando falou que caso presidente, iria retirar o
Brasil da Organização das Nações Unidas. Nesse caso específico,
Bolsonaro falou que cometeu um engano e que na verdade, só iria sair do
Comitê dos Direitos Humanos.
Ciro Gomes (PDT)
também entra em colapso com discursos que não compactuam logicamente
com a situação eleitoral de sua candidatura. Se vendeu como candidato de
Centro-Esquerda por um longo tempo, e então escolheu a Senadora Katia Abreu
para ser vice de sua chapa. Com a escolha, afastou votos da esquerda.
Nos debates, porém, Ciro insiste em falar que nunca teve plano de ser o
candidato da esquerda e que nunca esperou receber o apoio de Lula.
Além disso, Ciro se orgulha em falar de sua gestão na prefeitura de
Fortaleza e do Estado de Ceará, mas durante o governo de seu irmão, Cid Gomes
(PDT), o estado passou de 19º para 2º mais violento do País e sua
capital se tornou a cidade mais perigosa do Brasil. Sempre questionado
sobre isso, Ciro sempre coloca a culpa nas fações criminosas do Sudeste e
do fato de que a crise na violência deveria ser tratada pelo governo
federal e não estadual.
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Nessa história toda, quem acaba se beneficiando — ao mesmo tempo que se prejudica — , é Lula,
candidato do PT. Isso porque, preso, Lula não consegue participar de
debates, sabatinas e entrevistas. Assim, não é diretamente confrontado
sobre problemas e controvérsias de seu governo, partido, ou de si
próprio. Mesmo assim, diariamente, os jornais divulgam que, mesmo preso,
Lula é o candidato que lidera as intenções de voto e que não pode
participar dos eventos por determinação judicial. Ali, uma propaganda
gratuita de Lula acontece enquanto soma-se no imaginário da população
que ele só não pode se defender por estar preso. Teoricamente, Lula não
precisa de espaço de TV para deixar suas propostas: as pessoas já as
conhecem. Lula precisa de espaço de TV para divulgar que é o primeiro
nas pesquisas, ao mesmo tempo em que não é confrontado em debates e
programas por estar impedido, e assim, não se queimando. Estratégia? Por
outro lado, se prejudica pelo fato de não atingir exponenciais novos
eleitores com propostas — uma vez que não pode dá-las, e por estar preso
e isso carregar uma imagem negativa.
Fato
é: apertar as mesmas teclas e insistir em discursos que já foram
fortemente contestados é prática comum dos candidatos deste ano.
Aparentemente, estes gestos poderão se somar aos de falsos pagadores de
promessas no imaginário do povo brasileiro.
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